Como vencer as ‘Olimpíadas’ do mercado de trabalho
Por Cláudio Melo, psicólogo da Holiste Psiquiatria
A alta competitividade e a necessidade de melhorar a performance nos negócios exigem preparo físico e mental dos líderes de grandes empresas. Cada vez mais, as demandas do mercado de trabalho causam picos de estresse e desencadeiam patologias como a Síndrome de Burnout. No entanto, apesar da má-fama, o estresse não é um vilão por definição. Pelo contrário, um pouco de estresse pode ser benéfico para garantir bons resultados. Sendo assim, por que a pressão das grandes empresas está incapacitando os funcionários?
Dois fatores tornam esse estresse patológico: o primeiro é a má-gestão. Assim como as finanças, nossas emoções precisam ser geridas. A falta de cuidado por parte das empresas ou pelo próprio profissional termina levando a um desgaste afetivo maior, que termina transbordando para o âmbito pessoal. Outro é a atual cultura de competitividade. Vivemos no mundo das curtidas, da necessidade do alto desempenho, e isso transforma o trabalho – que deveria ser uma realização pessoal – em um objeto de métricas e avaliação de desempenho.
Dessa maneira, o que poderia ser um estresse benéfico passa a se tornar um sintoma. Contudo, isso não é uma sentença final. Basta assistir a performance dos atletas nas Olimpíadas de Tóquio para ter um bom exemplo de gestão eficiente de estresse.
O que aprender com os atletas olímpicos
As Olimpíadas reúnem os melhores atletas do mundo em busca de uma medalha. O evento ensina algumas lições importantes para qualquer pessoa que, assim como os atletas, transitam por ambientes de extrema competitividade, seja uma empresa, escola, academia, etc. Os grandes desportistas utilizam algumas ferramentas para superar o nervosismo, manter o foco e garantir a vitória.
A primeira é a capacidade de adaptação, seguida pela concentração na tarefa que será realizada. Todavia, existe algo ainda mais importante: a conexão afetiva com o trabalho. Observamos que a competição faz sentido para os atletas. Não é preciso ser ingênuo; no mercado de trabalho formal nem sempre vamos trabalhar em algo que gostamos. Contudo, podemos aprender a gostar com o que trabalhamos – dando significado à atividade profissional.
Nessas situações, muitos profissionais evocam a palavra ‘resiliência’, mas não acredito ser o mais adequado. Prefiro a palavra “normatividade”. Não se trata de ser resiliente, resistir às pressões a qualquer custo, mas de se adaptar, de normatizar os desafios inerentes à função. Neste mercado tão plural, competitivo e cheio de mudanças, a capacidade de adaptação e de reinventar-se é muito mais saudável que a de resistir. Em muitos transtornos mentais e de estresse, é exatamente esta capacidade de adaptação que está deficitária.