Comunidade Judaica se prepara para celebrar Pessach durante a quarentena
Devido às medidas de isolamento social, para muitas famílias não será possível se reunir durante a comemoração da Páscoa Judaica
Entre os dias 8 e 16 de abril, a comunidade judaica comemora Pessach – que celebra a libertação dos judeus da escravidão no Egito. Este ano, devido às medidas de contenção do novo coronavírus, a Páscoa Judaica será diferente para muitas famílias que tradicionalmente se reúnem em volta da mesa nas duas primeiras noites de festa para a realização do Seder, quando a história do Êxodo é relembrada entre parentes e amigos.
Neste ano, ao invés da presença física, a distância será o principal gesto de carinho, comenta Marli Ben Moshe, diretora da área judaica do Colégio Renascença, instituição de ensino em funcionamento em São Paulo desde 1922. “Pessach é a festa que reúne toda a família em volta de uma mesa e juntos narram, perguntam, refletem sobre a saída do povo judeu do Egito. Em tempos de coronavírus, manteremos as tradições, mas, apenas com aqueles que estão conosco em casa, em uma quarentena protetora. Estaremos cuidando daqueles que amamos por meio da distância. O importante é mantermos nossos costumes e fé, e darmos continuidade ao elo de gerações que nos une, apesar da situação”, ensina.
Outro desafio para as comemorações durante a quarentena fica por conta da alimentação, já que se elimina nesse período todos os alimentos fermentados dos lares e estabelecimentos, e somente se ingere a matzá, ou seja, o pão ázimo. Para isso, as compras on-line vêm desempenhando uma função muito importante para manter as tradições durante os oito dias de Pessach.
Para Marli Ben Moshe, o principal desafio de toda comunidade será extrair um aprendizado desse período de isolamento durante a festa que comemora a liberdade. A diretora lembra que o Hagadá, livro usado na noite de Pessach, contém 4 perguntas. Todas elas começam assim: “Por que esta noite é diferente de todas as outras noites?”.
“Neste momento, mais do que nunca, devemos nos perguntar por que esta noite será diferente de todas as outras noites? O que mudou? Eu responderia: neste ano a humanidade se deu conta que somos todos iguais. Estamos todos juntos, em condições muito parecidas, enfrentando um inimigo comum: um novo vírus. Que ele sirva para que reflitamos sobre nossa impotência diante de algumas situações. Sobre nossos valores. Sobre o que realmente importa. E sobre a sobrevivência”, propõe.
A diretora da área judaica do Colégio Renascença relembra que a Hagadá diz que em toda geração deve o homem se sentir como se ele tivesse saído do Egito, ou seja, da escravidão para a liberdade. “Estarmos ‘presos’ em casa também nos remete à escravidão. Perdemos o direito de ir e vir e de conviver socialmente, de nos abraçarmos. No entanto, ainda podemos demonstrar afeto”, diz. Este é um momento de exercitar a criatividade para tocar quem amamos. “Pode ser um telefonema, um desenho, uma gravação. O importante é fazer o carinho transpor a barreira da distância física”, completa.
Marli Ben Moshe retoma um episódio muito importante da história: a travessia que levou o povo judeu a atravessar o Mar Vermelho em busca de uma nova vida. “Essa é a nossa travessia. Do passado para o futuro. Um recomeço bastante diferente. Esta noite é diferente porque nós somos outros, aprendemos com esta situação, crescemos e ressignificamos a vida e tudo o que a cerca”, finaliza.