O impacto das novas gerações nos modelos escolares
Por Prof. João Carlos Martins, Diretor-Geral do Colégio Renascença
Seja nas instituições de ensino públicas ou privadas, a chegada de uma nova geração às salas de aula afeta os modelos escolares. Essa discussão, por vezes pautada no saudosismo, esquece que não existe um tempo melhor ou pior do que o outro, apenas complexidades diferentes e a nossa obrigação de aprender a seguir em frente. As mudanças sociais nos indicam o caminho que deverá ser trilhado coletivamente.
Nessa evolução, é fundamental se ater à função social da escola. O conceito de complexidade de Edgar Morin nunca esteve tão presente. No lugar da fragmentação de saberes, o sociólogo propõe o conceito de complexidade – ou seja, aquilo que é tecido em conjunto. É impossível manter uma posição passiva frente a toda complexidade que estamos experienciando e que forma o terreno sob o qual a escola caminha.
Uma geração bem informada e ansiosa
Na década de 90 ouvimos falar sobre o acrônimo VUCA – que descrevia o mundo em quatro características: Volatilidade, Incerteza, Complexidade e Ambiguidade. No entanto, nas palavras do antropólogo Jamais Cascio, isso mudou. Entramos no mundo BANI: Frágil, Ansioso, Não-Linear e Incompreensível. Nesse mundo volátil em que um vírus pode paralisar todas as cidades, a ansiedade é latente. Chega às escolas uma geração bem informada e bastante ansiosa.
O mais importante é entender como lidar com os novos papéis que a escola assume sem perder de vista a função principal da instituição de trabalhar o patrimônio cultural da humanidade. Nós, educadores e gestores educacionais, precisamos ter claro que a escola precisa estar engajada com essa nova realidade, mas sem abandonar o compromisso pedagógico. Separei alguns aspectos que podem inspirar a transformação:
Olhar menos linear: É preciso colaborar com a formação dos professores para que consigam desenvolver planejamentos transdisciplinares, integrando assuntos ao invés de seguir o modelo linear e fragmentado. Com isso, o currículo escolar que antes era pautado nas disciplinas, passa a ser fundamentado em problemas. O desafio é elaborar um planejamento integrado e pensado a partir de temáticas fundamentais. A escola integrada será o futuro e essa rede de conhecimentos nos incita a pensar no que é relevante.
Ensinando a pensar: Se desde pequeno o aluno tem a informação na palma da mão, nosso desafio não é informar o aluno, mas colaborar para que ele problematize a profusão de dados recebidos diariamente. O ponto central é despertar a sagacidade no aluno, ensiná-lo a apurar aquilo que recebe, buscar informações consistentes. Para isso, entra em cena a Metodologia de Investigação – ou seja, como ensino o aluno a investigar.
Empatia e Escuta Ativa: Essa é uma geração acostumada a falar muito e escutar pouco. Por isso, é importante exercitar a escuta ativa desde a educação infantil e fazer o estudante perceber que há momentos em que ouvir é primordial. Com isso, estamos trabalhando outro conceito importante: a empatia. Contudo, para isso, o papel do professor é essencial. Você escuta os seus alunos? Ou o coloca na posição passiva de espectador da aula?
Espaço Educador: Nessa escola plural e interligada, o espaço da sala de aula como único ambiente educacional caiu em desuso. O espaço educador é o espaço das relações, todo ambiente em que diferentes formas de pensar se encontram – em resumo, a escola inteira. Isso exige corresponsabilidade, comprometer todos os atores da instituição de ensino no processo educacional.
Este é o caldeirão de desafios contemporâneos em que a escola está mergulhada. Cabe aos gestores educacionais e educadores, possibilitar que a mudança entre na sala de aula – e ela chega através dos alunos, das famílias e da sociedade. Este não é um tema possível de ser esgotado, pelo contrário, estamos apenas iniciando este debate provocador e difícil, e, por isso mesmo, um que vale a pena ser levado adiante.